terça-feira, 30 de agosto de 2011

A lajem que virou um jardim.

Era uma vez uma turma que foi posta num lugar muito alto.
De crianças lindas, abusadas, inventivas.
O que ninguém sabia, quando as colocaram lá em cima,
é que elas floresceriam e se tornariam um lindo jardim.
Algumas destas flores e plantas irão ser levadas pelo vento e irão florescer ainda mais em outros lugares.
Outras permanecerão, mas jamais se esquecerão de onde vieram e de quem são.
E eu, como um observador distante, saberei que minhas palavras não serão esquecidas.
E esse é o melhor presente que eu poderia jamais ter ganhado.

Às vezes ser professor é complicado. Às vezes é frustrante. Mas de vez em quando, em momentos como o de hoje, vale à pena. A gente chora, se descabela, xinga, quer matar meio mundo. Odeia o salário injusto, abomina ser injustiçado. Se sente mal, menor, desvalido.
No entanto, de vez em quando, uma luz incide. E esse único momento faz tudo valer à pena e a minha fé no magistério volta.
Obrigada meus amores. Vocês são parte do meu coração.
Ao meu terceiro ano, do Objetivo São Vicente. Para a Minha Laje. Que me fez chorar de alegria, depois de tantas lágrimas de tristeza. Amo vocês.
Para Guilherme, um poeta insuspeito, que me fez chorar pelos motivos certos.

um beijo,
sua eterna
Tia Dani


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Para @Maria Fernanda Leitão de Paiva, em resposta a sua carta.

A distância é uma coisa engraçada. Ela nos dá perspectivas diferentes sobre diversos assuntos. mas quando se fala em distância, 9 entre 10 dizem que ela é um fator importante para  a falência dos relacionamentos. As pessoas se prendem a pequenos detalhes, coisas insignificantes e colocam a culpa no outro de seus próprios problemas mal-resolvidos. Isso também serve para primeiros encontros e primeiras impressões. Muitas vezes, contra nosso próprio senso, erramos ao julgarmos alguém na primeira vez que o vemos. Acreditem quando digo que já errei várias vezes nesse sentido e hoje, posso dizer, que esses erros são as pessoas que mais amo na minha vida. Um delas é Maria Fernanda Leitão de Paiva, a mãe de Mariana. Ela deixou de ser alguém importante na ordem das coisas no dia em que a bochechuda nasceu. Um presente. Uma dádiva. A luz que faltava para essa pessoa digna, impávida pudesse seguir e descobrir, definitivamente, o ser humano de valor que ela sempre foi. 
Esse ser humano inigualável esteve ao meu lado em todos os momentos que nos definem como pessoas corretas. Ela enxugou minhas lágrimas inúmeras vezes. Ela me defendeu umas tantas outras.  Sempre me olhando de cima (até porque ela é muito mais alta do que eu) bancava a mãe águia. Mas não pensem que era apenas isso. Eu tive meus momentos de mamãe urso com ela. Estive ao seu lado na hora mais escura e penosa. enxuguei suas lágrimas sentidas. Ri seus risos de alegria. Compartilhei perrengues, desilusões, amarguras.  Minha maior dor foi não ter estado ao seu lado quando finalmente a escuridão se foi e em seu lugar veio Mariana, para curar seu coração cansado. Não ter, ainda, podido segurá-la e celebrar com minha amiga sua alegria. Mas se em corpo eu não estava ao seu lado, estava na alma, lugar sincero e verdadeiro, que nada nem ninguém consegue criar máculas. 
Esse texto não é para celebrar o passado, magnífico, que tivemos. Mas para enaltecer nosso futuro. Prometo, neste dia, que deixarei tudo de lado para estar ao seu lado se você precisar de mim. Que cuidarei de Mariana se você assim precisar. Que continuarei  a te amar não importa a distância. E que, em meu coração, você sempre terá uma cobertura com varanda panorâmica para poder gritar para todos ouvirem:

"EU NÃO MATEI JOANA D´ARC" E ISSO NÃO CONSTRÓI NADA, DANIELLE COSTA!"

Amo-te. Simples assim.

D. 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Mudanças

Texto de agradecimento a Luciana Ornelas.


Invariavelmente, mudar pode ser complicado. Mudar de casa, de estado, de roupa, de sapatos. Mudar de atitudes. Nada disso, no final, é significante. Não quando o ato de "mudar" é forçado. Há, definitivamente, duas formas de encarar. Ou você se adapta e segue o fluxo ou você se revolta e faz tudo ao contrário.
Só que às vezes, revoltar-se e fazer tudo ao contrário pode ser um modo darwinista de seguir a adaptação ao meio. Você pode se auto-eliminar do tabuleiro. A descoberta de uma doença pode fazer isso com a gente. Por um momento de auto piedade você se pergunta: "POR QUE EU ????!!!" 
Depois você pode fazer suas escolhas. Por que eu estou escrevendo isso?
Bem, às vezes quando eu estou caminhando, ouvindo minha música, quem me conhece sabe que eu odeio ficar no silêncio, eu paro para refletir sobre a vida, o universo e tudo mais. E numa dessas eu parei para pensar que a diabetes me trouxe algo de bom. Não só os eternos cuidados com o que como, ter de fazer exercícios ou me preocupar com os meus pés ou até mesmo os limites que minha vida tem agora. Ela também me trouxe uma consciência maior do meu espaço corporal. Eu nunca mais cai. E eu vivia caindo. Não sinto mais dor em meus joelhos, e eu sempre sentia. Eu consigo correr atrás de um aluno, só pela farra, antes eu nem cogitava isso. Eu faço PILATES pelo amor de Deus! alguém já viu isso? é a maneira mais auto punitiva de se fazer exercícios que existe! vc se torna um acrobata do circo du soleil em cima de uma bola! 
Aos poucos, a auto-imagem que eu sempre tive de mim mesma, que sempre me ajudou a andar pelo mundo com confiança, está saindo da minha cabeça e atravessando o véu da realidade. 
Aqueles caras que dizem que mudanças são necessárias estavam certos. Agora eu só preciso deixar de ser tão boba com algumas coisas. Mas acho que isso vai ser mais complicado. Jogar fora peso é uma escolha. Mesmo quando parece que não é. Andar à margem completamente, o tempo todo é complicado. Essa luta constante pode destruir alguém. Eu sei, quase aconteceu isso comigo. Você pode colocar um pé nas Margens. Os pés não importam. A alma, ah! se essa nunca colocar suas assas ali, então, você continua mantendo sua essência intrínseca.



FRAGMENTOS DE UM EVANGELHO APÓCRIFO
Jorge Luis Borges


3. Desaventurado o pobre de espírito, porque debaixo da terra será o que é na terra.
4. Desaventurado o que chora, porque já tem o hábito miserável do pranto.
5. Ditosos os que sabem que o sofrimento não é uma coroa de glória.
6. Não basta ser o último para ser alguma vez o primeiro.
7. Feliz o que não insiste em ter razão, porque ninguém a tem ou todos a têm.
8. Feliz o que perdoa aos outros e o que se perdoa a si mesmo.
9. Bem-aventurados os mansos, porque não condescendem com a discórdia.
10.Bem-aventurados os que não têm fome de justiça, porque sabem que nossa sorte, adversa ou piedosa, é obra do acaso, que é inescrutável.
11.Bem-aventurados os misericordiosos, porque sua felicidade está no exercício da misericórdia e não na esperança de um prêmio.
12.Bem-aventurados os de limpo coração, porque vêem a Deus.
13.Bem-aventurados os que padecem perseguição por causa da justiça, porque lhes importa mais a justiça que seu destino humano.
14.Ninguém é o sal da terra; ninguém, em algum momento de sua vida, não o é.
15.Que a luz de uma lâmpada se acenda, embora nenhum homem a veja. Deus a verá.
16.Não há mandamento que não possa ser infringido, e também os que digo e os que os profetas disseram.
17.O que matar pela causa da justiça, ou pela causa que ele crê justa, não tem culpa.
18.Os atos dos homens não merecem nem o fogo nem os céus.
19.Não odeies a teu inimigo, porque se o fazes, és de algum modo seu escravo. Teu ódio nunca será melhor que tua paz.
20.Se te ofender tua mão direita, perdoa-a; és teu corpo e és tua alma e é árduo, ou impossível, fixar a fronteira que os divide...
24.Não exageres o culto da verdade; não há homem que ao fim do dia não tenha mentido com razão muitas vezes.
25.Não jures, porque todo julgamento é uma ênfase.
26.Resiste ao mal, mas sem espanto e sem ira. A quem te ferir na face direita, podes oferecer-lhe a outra, sempre que não te mova o temor.
27.Eu não falo de vinganças nem de perdões; o esquecimento é a única vingança e o único perdão.
28.Fazer o bem a teu inimigo pode ser obra de justiça e não é árduo; amá-lo, tarefa de anjos e não de homens.
29.Fazer o bem a teu inimigo é o melhor modo de comprazer tua vaidade.
30.Não acumules ouro na terra, porque o ouro é pai do ócio, e este, da tristeza e do tédio.
31.Pensa que os outros são justos ou o serão, e se não é assim, não é teu erro.
32. Deus é mais generoso que os homens e os medirá com outra medida.
33.Dá o santo aos cães, deita tuas pérolas aos porcos; o que importa é dar.
34.Busca pelo agrado de buscar, não pelo de encontrar...
39.A porta é a que escolhe, não o homem.
40.Não julgues a árvore por seus frutos nem ao homem por suas obras; podem ser piores ou melhores.
41.Nada se edifica sobre a pedra, tudo sobre a areia, mas nosso dever é edificar como se fora pedra a areia...
47.Feliz o pobre sem amargura ou o rico sem soberba.
48.Felizes os valentes, os que aceitam com ânimo semelhante a derrota ou as palmas.
49.Felizes os que guardam na memória palavras de Virgílio ou de Cristo, porque estas darão luz a seus dias.
50.Felizes os amados e os amantes e os que podem prescindir do amor.
51.Felizes os felizes.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Realengo

Eu poderia passar horas escrevendo sobre as 12 crianças que morreram. Que tinham sonhos, esforçavam-se para conseguir um vida melhor, que eram amadas por seus pais, seus amigos. Eu poderia falar horas deste cidadão, que sob falsos dogmas religiosos, resolveu bancar o "anjo vingador" e se vingar dos impuros.
Mas não vou fazer isso. Porque no final, o culpado disto somos nós, que elegemos politicos corruptos, que embolsam rios de dinheiro, que aparecem na midia se fazendo de tristes, mas que nada mudam. Poderia culpar a midia, que transforma tudo em um espetáculo, mas não vou. Ela só faz isso porque ninguém reclama de seus serviços, que são altamente pagos por nós.

Ao invés disso, darei voz a alguém que soube se compadecer de nosso triste, corrompido e humilhado país.


Pátria Minha

Vinicius de Moraes


A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."


Texto extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 383.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Negro diáfano

A noite estava incrivelmente fria para aquela época do ano. Parada sob um luminoso antigo, ela esperava. Incansalvelmente, irrealisticamente, ela esperava. Uma sombra em negro com relances diáfanos. Imutável como o tempo. Ao longe as pessoas, distraídas, nem se davam conta de mais aquela sombra, dentre tantas projetadas pelos prédios e casas ao longo da avenida.

Ela sorriu. Amava a rua, com suas incongruências e tipos escalafobéticos. Não havia melhor lugar. Mesmo com as gotas de chuva que caiam ao seu redor, ela não trocaria sua liberdade por uma prisão confortável, estéril.

Resolveu sair de seu ponto seguro, mas ainda nas sombras, só que dessa vez, nas das árvores centenárias que ladeavam a rua.

À medida que seguia seu passo morno, ouviu ao longe uma melodia e o vento lhe trouxe as palavras:

"Pour un peu de toi je pars sans hésiter
Tout au bout du monde sur le toit au sommet
Marks your path with scattered seeds beneath the opal stars,
Sur ton chemin
But in the crowd there's only one beneath the opal stars,
Sur ton chemin

Le long de tes reins"


A voz suave e a cadência ritmada a empurraram na direção da melodia. Chegando em um rua sem saída, em seu final, uma singela casa se destacava, em meio a tantas cinzentas e desbotadas, pela luminosidade das velas no parapeito da janela. O alegre fogo-fátuo projetava desenhos divertidos no mundo ao seu redor.

A melodia estava cada vez mais nítida, bem como a voz que trespassava a alvenaria daquele pequeno mundo à parte. A atração era inequívoca. Era preciso chegar mais perto, permitir-se alcançar os pequenos cristais de luz, afastar as sombras.

Ainda cautelosa ela chegou à porta, que estava entreaberta, como se a esperar o amante há muito perdido. Seu coração deu um pequeno pulo. Do outro lado, um homem descansava em uma cadeira, de frente ao fogo de uma lareira. Sua cabeça estava inclinada na direção da porta e ele contemplava o fogo tristemente. Sua face mostrava as linhas de uma vida vivida. Sua barba era mareada de espumas brancas   dos mares ocidentais, nos períodos abissais do verão. Suas mãos haviam conhecido muitas demandas, mas guardavam a beleza dos tempos outonais.

Lentamente, ela se aproximou. O barulho era seu inimigo. Ele a denunciaria e ela seria expulsa de volta para as sombras, que até instantes atrás haviam sido suas amigas. Tentou aproximar-se. Tentou existir fora daquele lugar cinzento em que sempre vivera. Tensamente chegou mais perto da cadeira e da mão que havia conhecido muitas demandas, mas guardavam a beleza de tempos outonais. Quando estava quase alcaçando, seu passo perdeu sua leveza de ladrão e ele a viu.

Levantou-se. Estendeu seu pedaço de outono em sua direção e sorrateiramente, aproximou-se. Duvidou. Procurou uma maneira de alcançá-la. Procurou por seus olhos. Um relance verde encontrando um relance negro. Sorriram. Ele abriu os braços em sua direção.

E em apenas um instante, o Tempo, senhor de todas as coisas acabou com a solidão.

terça-feira, 29 de março de 2011

O ouvir e o sentir - Para Karyn Krauthein

Há pouco tempo, ouvi minha melhor amiga dizer que amaldiçoava sua memória, porque ela era musical. Ela tem a capacidade inata, como todos nós temos, de associar momentos, pessoas e acontecimentos a músicas que estejam rolando em seu mp3 ( que demodée Danielle, hoje tudo é Ip..alguma coisa...dani-se). Como boa amiga que sou (de vez em quando) re-adotei esse costume, que eu tinha, mas que acabei perdendo até ela entrar na minha vida. E ao lembrar dessa época, em que ela pulou de pára-quedas na minha existência, a primeira coisa que me lembro é de Amy Winehouse, Back to Black . É provável que para ela haja outras que também a joguem nesse momento. Mas na minha cabeça, Karyn sempre será essa música. 
Vieram outras, para momentos extremamente diversos. felizes, tristes, tensos, amargurados. De festa. Celebração. Despedida. Sim, nossa amizade é feita de Encontros e Despedidas.

Encontros, como foi o nosso primeiro, naquela sala de aula mequetrefe, naquela escola mequetrefe.
Eu ainda lembro do tom de respeito. Do cuidado ao falar comigo. Tentando me explicar seus problemas. E eu, delicada como sou, meiga como sou, dei-lhe a primeira bordoada das muitas que eu ainda daria. Mas nessa primeira vez ela apenas escutou. Dali pra frente revidou cada uma delas. Umas com mais força, outras menos, mais nunca mais deixou ninguém a maltratar. Nem eu, ainda que com boas intenções! ( e olha que o inferno está cheio delas!!!!!)

Um ano de convivência. Um ano mágico. Mas então, a realidade bateu e eu tive de vir para Sampa e sua selva de concreto. E por mais feliz que ela tenha ficado, por ver que eu e Rael sairíamos daquela situação horrorosa em que estávamos, tivemos de nos despedir para podermos continuar. Paradoxal? Pode ser, mas a vida às vezes é assim. Reside na distância a amorosidade dos corações. A música que marca esse momento de ruptura é Bittersweet do Apocaliptica. E representa tão bem a agridoce situação da despedida entre duas pessoas que se amam.

O tempo passou. mas para nós, cada vez que nos vemos, é como se fosse aquele ano. Muitas outras músicas vieram. Muitas descobertas, brigas, risos.

Um por-do-sol compartilhado no Solar do Unhão, em Salvador, ouvindo Elephant Gun enquanto o sol descia, majestoso, por entre as águas da baía de Todos os Santos. E nós sentadas, lado a lado ouvindo a música e compartilhando a paz daquele momento, cercadas de pessoas que amamos. Mas ali, sentadas naquelas pedras, nossa amizade ficou ainda mais forte. Porque dividimos nossos sonhos, nossos anseios, nossas alegrias.

E ainda mais. Poderia escrever milhões de páginas. Mas elas nunca conseguiriam contar tudo. Nem do pior momento que passei e que, mesmo longe, eu a sentia ao meu lado.

Tudo isso é para ver se ela melhora. Ela anda triste. Anda em estado "emóico" como ela mesma diz.
Então, eu resolvi fazer esse texto para lembrá-la de tudo aquilo que importa. Não importa a distância, o tempo, sempre seremos a casa uma da outra. O refúgio, o lugar seguro. O lar.
Eu te amo pé grande. Fadinha pin up. Doida de pedra. Amiga, irmã, mãe.

E Dani-se quem não gostou.








segunda-feira, 28 de março de 2011

Começando....

Bem, todo mundo que me conhece um pouco, sabe que eu sou uma negação para escrever em blogs. Fico com preguiça, deixo de lado, passo meses sem entrar...enfim...vontade zero.
No entanto, ultimamente ando conversando muito com duas pessoas absurdamente loucas e fantásticas. Eudes Honorato e Vanessa Menduiña. Ela,  amiga de longa data. Ele um recém-amigo com ares de antigo. Talvez aquela história de que almas afins se reconhecem seja verdade. Ou que demônios fugitivos do inferno acabam, se cruzando...Neste caso, qualquer das alternativas é verdadeira. Anyway, se não fossem os dois, este blog não existiria.
Então é por isso que aqui estou eu, escrevendo no blog, quando deveria estar fazendo simulados. Mas, se não gostou, dani-se. (errado mesmo)

Talvez esse espaço me faça voltar a querer escrever não só pensamentos, digressões, mas também academicamente falando.  Outro dia a Vanessa me disse uma coisa pelo twitter( que usamos como se fosse central de bate papo) que desde que ela me conhece eu falo em fazer o doutorado sobre lost girls. E é verdade. Lá se vão quase cinco anos desde que essa idéia surgiu. E ela ainda não nasceu. e o pior é que eu não sei mais se vai nascer (muitas coisas, em minha vida, nesses últimos 3 meses têm deixado de nascer...). Eu não sei, se de fato, desejo que minha linda e utópica idéia saia de mim e vá para o papel para o escrutínio alheio.  
A única coisa que sei, com certeza, é que aqui, sentada com o laptop no colo, com um cigarro acesso e ouvindo Madredeus, de repente me veio a calmaria que eu precisava.  Uma estranha paz na mente, depois de um período cheio de zumbidos. Hoje, não sou nem um pedaço do que já fui. Mas o pedaço que fica ainda está vivo. E ainda sabe escrever. Mesmo que um pouco.




Belo
Manuel Bandeira

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.


— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.